Sítio Juazeiro/Carapebas – Ano 1935

Na foto, Floriano Bezerra de Araújo com seus filhos Salusa Ribeiro de Araújo, Saly Ribeiro de Araújo, Renan Ribeiro de Araújo e Rosenberg Ribeiro de Araújo, na inauguração do Auditório José Campelo Filho, do Sindicato dos Bancários do Rio Grande do Norte
Sítio Juazeiro/Carapebas – Ano 1935

Prelúdio de Renan Ribeiro de Araújo

Através de laboriosa escavação nos escaninhos de sua privilegiada memória, o ex-deputado, líder operário-camponês Floriano Bezerra de Araújo gesta solidariedade humana e afeto sanguíneo nos dias atuais. No texto de seu Caderno de Memórias para esta segunda-feira, 18 de abril de 2016, Floriano Bezerra, hoje com 88 primaveras, rememora episódios que passou dos 8 aos 28 anos. Lendo o escrito, lembrei de Guimarães Rosa, em seu renomado “Grande Sertão: Veredas”, narrando que “A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação – porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada.” Vejam:

SÍTIO JUAZEIRO/CARAPEBAS – ANO 1935

– Trago em minha mente grata lembrança dos meus oito anos. Mamãe me chamou para ir com ela, fazer uns queijos na casa do Sr. Marcelino Vieira de Melo, atendendo pedido de Júlia, sua esposa que era parenta de mamãe. O Rio Salgado tinha grande extensão de um lado ao outro. Além estava a várzea de 5 km em cujo Tabuleiro, no começo, ali havia a casa de Seu Marcelino.

A gente chegou lá pelas 14 horas e fomos recebidos cordialmente pela família. Mamãe fez os queijos. Às 16 horas, voltamos para o Sítio Juazeiro. Lembro-me que Seu Marcelino tinha três filhos: Baltazar, Luís e Tobias. Estou lembrado que chegamos em casa estafados. Tomamos banho. Em seguida jantamos. Vem então a boa conversa natural das famílias sertanejas. Chegou o sono, fomos para as redes dormir. Acordamos com o cantar da passarada, as rolinhas entoavam suas mensagens cifradas para nós racionais.

– Eu e papai abrimos a porta e saímos para respirar o ar serenado da manhã. Minha mente tem clareza que tanto nos Sítios como na Vila, era da tradição o povo correr para as barrancas do Rio para ver o espetáculo das águas em remansos de galopar muito veloz e peixes pequenos de saltos acrobáticos ou lindosa Piracema em demanda do Atlântico. Para os espectadores da velocidade das águas, o fenômeno deixava o imaginário deslumbrado. Ninguém tinha vontade de voltar logo, para cuidar das muitas atividades do seu dia-a-dia.

– Vinte anos depois, eu ainda era solteiro, morava com meus pais na atual Rua João Café Filho, na cidade de Macau, n.º 114. Pelas 19 horas, chegou à nossa porta, um cidadão alto, forte, ainda jovem, e foi falando: “Querubina, eu sou Luiz Marcelino, lá do Tabuleiro do outro lado do Rio do Juazeiro de Carapebas. Nós somos primos ainda, você sabe disso. Sou irmão de Baltazar, que casou com Luiza irmã de Venâncio. Eu quero dormida por aqui, que amanhã, ou hoje ainda, vou pedir a Floriano uma conferência de sal, que preciso trabalhar.” E assim foi. Mandei-o trabalhar de conferente na Salina Julião. Conferiu sal em duas colheitas. E nunca mais Luiz apareceu. Andei perguntando a Luís algumas coisas, quais fossem: Recordo que perguntei por Tobias. Esse meu irmão, entrou na Polícia Militar. Depois foi destacado para o Seridó, e dizem que matou um filho dum fazendeiro da Paraíba, e deram sumiço a ele – Respondeu.

– E perguntei mais a Luiz: E o Sítio de vocês? Aquilo foi tudo vendido – Respondeu. Onde você mora agora? Estou passando um tempo no interior de Touros – Respondeu.

– Episódio que a minha mente registrou e me fez honra naqueles dias.

(Na foto, Floriano Bezerra de Araújo com seus filhos Salusa Ribeiro de Araújo, Saly Ribeiro de Araújo, Renan Ribeiro de Araújo e Rosenberg Ribeiro de Araújo, na inauguração do Auditório José Campelo Filho, do Sindicato dos Bancários do Rio Grande do Norte)

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