Viagem de lazer à fazenda de João Varela

Na foto, Floriano Bezerra de Araújo, sua filha Saly Ribeiro de Araújo e o ilustre macauense Castelo Casado, na noite de autógrafos de Minhas Tamataranas: Linhas Amarelas - Memórias, no ano de 2009
Viagem de lazer à fazenda de João Varela

Prelúdio de Renan Ribeiro de Araújo

Devido ao rosário de demorados sofrimentos que em longa noite de agonia e terror o golpe civil-militar de 1964 lhe impôs, Floriano Bezerra de Araújo passou muito tempo equidistante de manifestações políticas, festas sociais, encontros de riso e eventos culturais. Afinal, ninguém queira passar o que Floriano Bezerra passou, tido como inimigo n.º 1 da ditadura no Rio Grande do Norte. Enfim, há nove anos, o sem-terra Floriano Bezerra usufruiu da cortesia da “casa-grande”, curtindo o cotidiano na fazenda e a riqueza rural. É essa visita que Floriano comenta no seu Caderno de Memórias desta segunda-feira, 28 de março de 2016. Vejam:

VIAGEM DE LAZER À FAZENDA DE JOÃO VARELA

Ano 2007 – Fiz uma viagem de lazer à fazenda de João Varela, encravada em terras de Santana do Matos, atendendo convite do jovem Eng. Alcides Deodato, recém-casado com a minha neta Katiúscia. A gente viajou acompanhado do Sr. Alberto Varela da Silva, Auditor Fiscal do Estado, irmão do também Auditor Estadual, João Varela de Sá, que nos esperava na propriedade, juntamente com os familiares.

– De Natal pegamos a BR 304 até Angicos, daí fomos numa estrada de 18km até ao nosso destino. Dali distava 18 km para Santana do Matos. Almoçamos com o amigo João Varela e sua família. No evento, todos estavam radiantes com a nossa chegada. No almoço, Alberto, de tão simples falava pouco, enquanto João Varela tagarelava sem parar. A cada instante, Alberto, dizia: João, você exagera, seja mais moderado. Aí João dizia: Você não sabe o que diz. Essa situação parecia uma comédia dos dois atores americanos, o Gordo e o Magro. O fato ajudava nas alegrias que rolavam.

– No lauto e festivo ágape sertanejo nas fazendas de boas posses econômicas. Finalmente, terminado aquele momento. O amigo fazendeiro foi tirar uma soneca, enquanto nós outros fomos para o alpendre cuja panorâmica ao Norte, dava gosto a gente ver, enquanto por cima de um açudeco perto da casa, daí em diante o cenário era só de belezas do nosso sertão agreste e seus contrastes.

– A suavidade do vento nordeste que já balsamizava os espaços à nossa vista, me fez convidar Alcides para irmos naquele terreno até o fim do nosso horizonte em frente. Minha neta de tão bonita foi com a gente, e lá Alcides de sorriso fácil num cata-vento que rangia puxando pequenas porções d’água de uns 15 metros de profundidade. Eu que caminhava lá na frente desejando ver de perto o arvoredo e arbustos que ficavam à nossa direita.

– Sentindo-me enfezado, entrei num capão de mato para me arrimar; terminava de higienizar o chamado fio o…, quando o imenso touro guazirú que comandava o rebanho da fazenda, de nome Turrião, de longe me viu, urrou feio, baixou a enorme cabeça correndo de xoto em minha direção, e eu parti ainda de bermuda na mão por dentro do mato fechado, tremendo de medo de ser alcançado pelo animal enfurecido.

– Na carreira saí bem próximo do cata-vento onde estavam Alcides e Katiúscia. Alcides foi logo em sua verve fazendo graça do perigoso acontecimento. Eu quase não entendi aquele jeito de humor negro. Só me tranquilizei, entrei em paz comigo mesmo ao contemplar as águas cristalinas, potáveis, que corriam com leveza em pequenos regatos, cujas fontes nasciam dentro daquela floresta quase tibetana em seu verdor de tanta clorofila.

– O Sol era poente. Voltamos a casa onde estavam os amigos, Roberto, João Varela e familiares de apoio. Em casa, fomos tomar banho para o jantar. Então, na saída dos nossos aposentos já faltava chão para pisarmos, diante de tanto batráquio, era sapo para todo lado, e aparecia mais e mais. Nasci e cresci em fazendas e sítios das caatingas do Vale do Açu e Carapeba (Afonso Bezerra). E nunca vi tanto sapo nas invernadas, tempo de aparição da espécie.

– João Varela bateu o sinete para o jantar, (o homem acompanhava hábitos dos primeiros tempos das fazendas das Sesmarias). A mesa estava pronta, os comensais em ação, só João Varela falava solto e dizia de suas verdades e afirmações pessoais, fazendo o riso rolar na mesa. Findo o jantar, todos na sala da frente, haja amenidades e ditos da pabulagem.

– Papos encerrados, todos para seus aposentos do sono que faz a vida. Alcides e Katiúscia, eu e Roberto tivemos de abrir alas entre cururus, sapos e pererecas para então adentrarmos os pequenos quartos da pousada para dormida. Dia seguinte, 7 horas, após o nosso banho, fomos tomar café. Quando abrimos as portas, muitos sapos ainda nos recepcionaram de olhos na direção da gente.

Durante o nosso café, cuja mesa estava farta de tudo que era bom e gostoso na melhor forma da culiária sertaneja, sob batuta de Dona Laura, gentil e operosa esposa de João Varela, conversas sociais, alegres e respeitosas tiveram ensejo e rolaram até o fim.

Então, penhoradamente agradecido, fizemos nossas despedidas, bagagens às mãos, entramos no carro de Alberto, e regressamos a Natal com os pulmões arejados pelo oxigênio farto, carregando na mente a imagem pitorescamente bela da vida campesina.

(Na foto, Floriano Bezerra de Araújo, sua filha Saly Ribeiro de Araújo e o ilustre macauense Castelo Casado, na noite de autógrafos de Minhas Tamataranas: Linhas Amarelas – Memórias, no ano de 2009)

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